sexta-feira, 28 de junho de 2013

Entrevista com o Dr. Pauleta (Restelo Vet)



Andreia Teixeira: Em Portugal existe uma lista de sete raças consideradas potencialmente perigosas. Entende que realmente estas raças são perigosas?
Dr. Pauleta: Não, estas raças não são perigosas; eles são tão perigosos como um Yorkshire, caniche ou qualquer outra raça não perigosa. Simplesmente eles têm um porte físico que, quando se tornam agressivos, causam danos muito maiores do que nas outras raças. E devido ao próprio porte físico deles há muito mais tendência para dar uma educação mais agressiva a esses cães, no sentido das lutas ou defesa do território (exemplo o jardim, a casa). Portanto são perigosos nesse sentido, porque são moldados pelas suas características físicas para tal. Agora, intrinsecamente, um pitbull é tão mau como um Yorkshire, se calhar os yorkshires são piores que os pitbulls.
Eu nunca fui mordido, aqui na clínica, por nenhum pitbull e já fui mordido várias vezes por yorkshires ou caniches.

Andreia Teixeira: O Dr. Pauleta, na clínica, costuma atender muitos cães de raças perigosas?
Dr. Pauleta: Sim, maioritariamente Stafforshires, depois também temos Rottweillers. Mas aqui, é essencialmente Labradores ou Golden Retrievers. Os Fila Brasileiro não costumam haver muitos…

Andreia Teixeira: E são pacíficos?
Dr. Pauleta: Sim, são. Com esses animais nunca tive um único problema, tirando um ou que possa ter rosnado, mas assim agressividade pura e simples nunca tive. Por exemplo, com outras raças já tive, nomeadamente as que já mencionei (caniches ou yorkshires).

Andreia Teixeira: Quando trata destes animais considerados perigos, tem receio de que algo possa acontecer?
Dr. Pauleta: É assim, quando entra um cão grande, independentemente da raça, olho com mais atenção para o animal para ver que tipo de animal é que é – se está descontraído, se é bem-disposto, se está muito tenso, como estão as orelhas e a cauda – e depois vejo como ele reage e se aproxima de mim. Portanto, 90% das vezes dá para tirar o retrato facilmente e tomar as devidas precauções, caso verifique que não são de “confiança”. Mas às vezes há surpresas. Eu lembro-me que uma vez estava aqui um cão calmo e pachorrento, mas quando estava a preparar as vacinas, cruzo o consultório e ele vira-se a mim. Sim, às vezes há surpresas, mas são excecionais.

Andreia Teixeira: Já alguma vez tratou algum animal que aparentasse estar envolvido em lutas de cães ou por norma esses cães não costumam receber tratamento?
Dr. Pauleta: Já têm vindo cães com perfil de vítimas do que propriamente animais de lutas. Não, isso nunca me aconteceu. Aconteceu-me, foi noutra Clínica, um cão que aparece todo “esfacelado” e via-se nitidamente que era um “cão alfa”. Bem, o outro também seria, para este estar nestas condições…

Andreia Teixeira: Num caso, em que o veterinário atende um cão, que aparenta estar envolvido em lutas clandestinas, o veterinário pode intervir, no sentido de retirar o cão ao dono?
Dr. Pauleta: Não, nós não temos autoridade legal para poder retirar o animal à pessoa, temos que entrar em contacto com as autoridades. E sim, quando nos deparamos com este tipo de situações, temos de entrar logo em contacto.

Andreia Teixeira: O Dr. Pauleta disse que, por norma, os cães de raças pequenas têm mais tendência a atacar. Porquê?
Dr. Pauleta: Porque por norma estes cães são mais nervosos e sentem-se ameaçados. Há muito mais probabilidade de se virar um cão pequeno do que um cão grande, porque os cães grandes são mais seguros de si e são mais calmos.

Andreia Teixeira: Muitas vezes é mencionado que o Rottweiller não gosta de crianças. Será que se pode considerar um cão de família?
Dr. Pauleta: Eu tenho meia dúzia de Rottweillers e são todos muito meiguinhos. Eu acho que parte, essencialmente, do ambiente em que eles estão inseridos. Se estiverem num ambiente onde são bem sociabilizados, à partida não há qualquer tipo de problema.
Acho que as diferenças tendem a ver com a sociabilização do que propriamente com a genética. E acho que, à partida, um cão bem sociabilizado e treinado, que passeie e que se dê com todas as pessoas, vai ser dócil e sociável.

Andreia Teixeira: Acha essencial o treino em escolas de cães, tanto para o cão como para o dono?
Dr. Pauleta: Eu acho que sim. Qualquer cão que tenha um porte físico e uma natureza com tendência para a dominância, que é o que acontece com os cães grandes, deve sem dúvida ter treino.
E muitas vezes também os cães pequenos devem ter treinos de obediência. Mais do que treinar o animal, é treinar os donos a saberem lidar com o animal. Acho que isso é o mais importante.

O facto dos donos deixarem o animal na escola para ser treinado pelo treinador não vale de nada. O dono deve estar presente para ele próprio ser a autoridade. Não interessa o cão respeitar o treinador se não respeitar o dono.





Andreia Teixeira




Site da Clínica «Restelo Vet»:












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