Andreia Teixeira: Em Portugal existe
uma lista de sete raças consideradas potencialmente perigosas. Entende que
realmente estas raças são perigosas?
Dr.
Pauleta: Não, estas raças não são perigosas; eles são tão perigosos como um Yorkshire,
caniche ou qualquer outra raça não perigosa. Simplesmente eles têm um porte físico
que, quando se tornam agressivos, causam danos muito maiores do que nas outras
raças. E devido ao próprio porte físico deles há muito mais tendência para dar
uma educação mais agressiva a esses cães, no sentido das lutas ou defesa do
território (exemplo o jardim, a casa). Portanto são perigosos nesse sentido,
porque são moldados pelas suas características físicas para tal. Agora,
intrinsecamente, um pitbull é tão mau como um Yorkshire, se calhar os
yorkshires são piores que os pitbulls.
Eu
nunca fui mordido, aqui na clínica, por nenhum pitbull e já fui mordido várias
vezes por yorkshires ou caniches.
Andreia Teixeira: O Dr. Pauleta, na
clínica, costuma atender muitos cães de raças perigosas?
Dr.
Pauleta: Sim, maioritariamente Stafforshires, depois também temos Rottweillers.
Mas aqui, é essencialmente Labradores ou Golden Retrievers. Os Fila Brasileiro não
costumam haver muitos…
Andreia Teixeira: E são pacíficos?
Dr.
Pauleta: Sim, são. Com esses animais nunca tive um único problema, tirando um
ou que possa ter rosnado, mas assim agressividade pura e simples nunca tive. Por
exemplo, com outras raças já tive, nomeadamente as que já mencionei (caniches
ou yorkshires).
Andreia Teixeira: Quando trata destes
animais considerados perigos, tem receio de que algo possa acontecer?
Dr.
Pauleta: É assim, quando entra um cão grande, independentemente da raça, olho
com mais atenção para o animal para ver que tipo de animal é que é – se está
descontraído, se é bem-disposto, se está muito tenso, como estão as orelhas e a
cauda – e depois vejo como ele reage e se aproxima de mim. Portanto, 90% das
vezes dá para tirar o retrato facilmente e tomar as devidas precauções, caso
verifique que não são de “confiança”. Mas às vezes há surpresas. Eu lembro-me
que uma vez estava aqui um cão calmo e pachorrento, mas quando estava a
preparar as vacinas, cruzo o consultório e ele vira-se a mim. Sim, às vezes há
surpresas, mas são excecionais.
Andreia Teixeira: Já alguma vez tratou
algum animal que aparentasse estar envolvido em lutas de cães ou por norma
esses cães não costumam receber tratamento?
Dr.
Pauleta: Já têm vindo cães com perfil de vítimas do que propriamente animais de
lutas. Não, isso nunca me aconteceu. Aconteceu-me, foi noutra Clínica, um cão
que aparece todo “esfacelado” e via-se nitidamente que era um “cão alfa”. Bem,
o outro também seria, para este estar nestas condições…
Andreia Teixeira: Num caso, em que o veterinário
atende um cão, que aparenta estar envolvido em lutas clandestinas, o
veterinário pode intervir, no sentido de retirar o cão ao dono?
Dr.
Pauleta: Não, nós não temos autoridade legal para poder retirar o animal à
pessoa, temos que entrar em contacto com as autoridades. E sim, quando nos
deparamos com este tipo de situações, temos de entrar logo em contacto.
Andreia Teixeira: O Dr. Pauleta disse
que, por norma, os cães de raças pequenas têm mais tendência a atacar. Porquê?
Dr.
Pauleta: Porque por norma estes cães são mais nervosos e sentem-se ameaçados. Há
muito mais probabilidade de se virar um cão pequeno do que um cão grande,
porque os cães grandes são mais seguros de si e são mais calmos.
Andreia Teixeira: Muitas vezes é
mencionado que o Rottweiller não gosta de crianças. Será que se pode considerar
um cão de família?
Dr.
Pauleta: Eu tenho meia dúzia de Rottweillers e são todos muito meiguinhos. Eu acho
que parte, essencialmente, do ambiente em que eles estão inseridos. Se estiverem
num ambiente onde são bem sociabilizados, à partida não há qualquer tipo de
problema.
Acho
que as diferenças tendem a ver com a sociabilização do que propriamente com a
genética. E acho que, à partida, um cão bem sociabilizado e treinado, que
passeie e que se dê com todas as pessoas, vai ser dócil e sociável.
Andreia Teixeira: Acha essencial o
treino em escolas de cães, tanto para o cão como para o dono?
Dr.
Pauleta: Eu acho que sim. Qualquer cão que tenha um porte físico e uma natureza
com tendência para a dominância, que é o que acontece com os cães grandes, deve
sem dúvida ter treino.
E muitas
vezes também os cães pequenos devem ter treinos de obediência. Mais do que
treinar o animal, é treinar os donos a saberem lidar com o animal. Acho que
isso é o mais importante.
O facto
dos donos deixarem o animal na escola para ser treinado pelo treinador não vale
de nada. O dono deve estar presente para ele próprio ser a autoridade. Não interessa
o cão respeitar o treinador se não respeitar o dono.
Andreia Teixeira
Site da Clínica «Restelo Vet»:
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